terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

12a. A briga com as abelhas

Quem vive em lugares rurais conhece, sobejamente, os diversos tipos de abelhas que abundam pelos campos. Umas mais perigosas que outras.
Nessas mais perigosas se inclui também certos tipos de vespas, que se instalam em buracos de paredes ou buracos subterrâneos, sendo uma armadilha bastante perigosa para quem amanha as terras e não se apercebe da sua presença.
No tempo, todo o trabalho se fazia com charruas puxadas por animais, e quando esses equipamentos agrícolas destruíam os vespeiros, não só as pessoas como os animais, eram atacados pelas vespas.
Acontecia então que os animais desatavam em correrias loucas, levando consigo as charruas que puxavam, provocando por vezes graves acidentes.
Havia, por isso, que tomar providências para evitar esses acidentes, o que se fazia de noite, enchendo os buracos com muita água e amassando toda a terra em volta, para que as vespas ali ficassem enterradas. Normalmente, conseguia-se eliminar essa ameaça.
Nas paredes procurava-se encher o buraco com qualquer produto combustível, como o petróleo e, tomadas as precauções necessárias, chegava-se-lhe o fogo e o resultado era também eficaz.
Mas para os garotos, como eu era na altura, as vespas transformavam-se em divertimento, mesmo à custa de algumas picadas.
Protegiam-se as pernas, atando cordéis ao fundo das calças, para que elas não se infiltrassem pelas pernas acima, o mesmo se fazendo nos braços.
Para protecção da cabeça enfiava-se um saco de plástico, que depois era bem amarrado no pescoço.
O problema era a respiração, porque rapidamente o saco começava a ficar embaciado e logo a seguir começavam as tonturas, se não íamos respirar para longe do vespeiro.
Por vezes os limites eram ultrapassados e aconteciam então situações de maior gravidade.
Foi o caso de um dia o Quim da Vizinha me ir chamar, para atacar um vespeiro numa parede detrás da sua casa.
Como havia por lá uns sacos maiores, que tinham servido para transportar adubo ou fertilizante das terras, usámo-los para nos proteger da cabeça aos pés.
Mas o resultado foi desastroso.
O primeiro a ficar protegido foi o Quim, mas também foi o primeiro a cair inanimado por ter respirado dentro do saco, o que lhe terá provocado intoxicação.
Tirei rapidamente o saco e comecei a bater-lhe na cara e a sacudi-lo, mas só acordou quando lhe despejei em cima um balde de água.
Não chegámos a atacar as vespas, mas fomos vencidos pela imprudência.
E a lição não mais foi esquecida.
Para o meu irmão Quim, que também era muito atrevido com as abelhas, aconteceu outro problema.
Um dia foi picado nas sobrancelhas e houve logo um companheiro que lhe disse que podia evitar o inchaço, abrindo um tomate e colocá-lo sobre o sítio das picadas.
Uma desgraça. O ácido do tomate entrou nos olhos e foi vê-lo a gritar e a dizer que tinha ficado cego.
Não ficou, felizmente, mas à noite o inchaço era tal que não conseguia mesmo abrir os olhos. Eram assim as nossas brigas com as abelhas.

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