quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

10b - A cadeira eléctrica nas diversões de feira

Por altura das feiras, que no Fundão aconteciam nos meses de Abril e Outubro, nos dias precedentes começava a instalar-se nos espaços à sua volta todo o tipo de diversões.
Por lá apareciam o carrossel, circo, poço da morte, barracas de tiro, barracas de come-e-bebe, bancas de manipuladores do copo com os dados, mesas de cartas ou ainda os que mostravam a sua força lançando o mini foguetão pela rampa para fazer percutir o estalinho ao bater no topo, até aos da pancada com o martelo que projectava o peso que iria tocar a campainha no alto da coluna, etc.etc.
Sendo que estas feiras tivessem como objectivo a comercialização de produtos agrícolas ou de gado por parte de produtores e criadores, para os mais jovens só as atracções interessavam.
E sendo os tempos de recursos muito limitados, procurava-se amealhar ao longo do ano para que na altura houvesse algo para gastar.
Embora nos tempos actuais se mantenha no Fundão a calendarização destas feiras, o seu figurino modificou-se radicalmente.
Não mais houve venda de gados, as produções agrícolas foram definhando e as atracções, tal como existiam, não mais se viram.
Mas havia uma atracção, que aqui recordo, que me deixava muito intrigado e no princípio até algo perturbado – a cadeira eléctrica.
Lembro-me que, da primeira vez, a tenda se encontrava instalada no largo onde actualmente se encontra a Auto Transportes do Fundão.
Não posso precisar qual a idade que tinha, mas sei que era bastante pequeno e que fui com um irmão mais velho, porque sozinho não me atrevia a ir lá para dentro.
No exterior e sobre um palco instalado na frente, a propaganda para o espectáculo era feita por um indivíduo que trajava de fraque e cartola e através de uma espécie de funil ia falando e dramatizando o espectáculo com a “morte” de uma pessoa que seria electrocutada na cadeira eléctrica.
Para além da propaganda, também fazia de bailarino que dançava com uma boneca presa na ponta dos seus sapatos.
Era, pois, com grande expectativa que entrávamos na tenda, para assistir à “morte de alguém” na cadeira eléctrica.
Aí, o apresentador fazia a demonstração de que nos fios ligados ao capacete e aos braços da cadeira havia electricidade, fazendo acender uma lâmpada quando puxava a alavanca do quadro eléctrico, ao mesmo tempo que fazia rebentar um fusível que também era colocado sobre o capacete.
Com este clima, uma pessoa era sentada na cadeira, o capacete amarrado na cabeça, as pernas e os punhos presos à cadeira com grandes correias de cabedal e todas as luzes se apagavam, à excepção de uma pequena projecção sobre a pessoa sentada na cadeira.
Dirigia-se então à alavanca do quadro eléctrico e, puxando-a, estabelecia o circuito eléctrico que provocava um verdadeiro fogo de artifício à volta da pessoa.
Quando os nossos olhos recuperavam da luz provocada por esse fogo de artifício, víamos então que um esqueleto se encontrava sentado na cadeira, ainda com o capacete e os braços e pernas amarrados à cadeira.
Os espectáculos iam sucedendo dia após dia, com “execuções” atrás de “execuções”, mas apesar da série de “mortes” na cadeira eléctrica, nunca se viram funerais ou foram presos os que “matavam” tanta gente, enquanto durava a feira.

Sem comentários:

Enviar um comentário