sábado, 20 de fevereiro de 2010

8. As vindimas

Na quinta, a vindima não tinha o envolvimento que tinha, por exemplo, a malha.
Mas a época das vindimas tinha um particular interesse para a garotada.
As videiras eram relativamente poucas e a produção era apenas para consumo interno.
Naturalmente que todos eram chamados a colaborar, até mesmo os mais pequenos, para acarretar as uvas para o cirandão colocado em cima de uma dorna, onde eram esmagadas com as mãos, enquanto o mosto escorria para dentro da mesma.
Seguia-se o período da fermentação, mas enquanto tal não acontecia, lá se retirava uma certa quantidade para fazer a jeropiga, que acompanharia as castanhas por altura do magusto.
Do bagaço haveria de ser feita a aguardente, que para além de ser bebida como aperitivo ou mata-bicho logo em jejum por algumas pessoas, como meu pai também fazia, era utilizada nos bolos da festa e noutros temperos.
No entanto, todas estas voltas eram dadas pelos adultos que sabiam tratar disso e que, previamente, haviam preparado as dornas e posteriormente os pipos, para onde seria transferido o vinho limpo.
Desenrolando-se outras vindimas, também à nossa volta, muitos carros de bois passavam na estrada transportando grandes dornas, com as uvas que iam entregar na adega cooperativa.
Era a oportunidade para a garotada tentar apanhar uma cavaleira até à passagem de nível da linha do comboio, embora isso implicasse vir a correr até ao sítio em que havia sido tomada a boleia.
E a cena repetia-se várias vezes, ao mesmo tempo que se ia tirando uma uva para comer no percurso.
Mas nem todos os ganhões aceitavam essa brincadeira e, mal se apercebiam da presença dos garotos nas traseiras do carro, lá vinha a vara com o seu aguilhão para nos amedrontar e correr connosco.
Só que o sabor da uva roubada de uma tina ou dorna, nunca tinha o mesmo sabor de uma uva da quinta. Era muito melhor.
A opinião era geral e por isso o divertimento daquele jogo do gato e do rato para ficarmos com uns bagos de uva.
A certa altura descobrimos o estratagema da linha de pesca e do anzol, para retirar as uvas das tinas.
Uma vara, um cordel e um gancho pendurado na ponta e colocávamo-nos por cima do muro que ladeava a estrada.
Quando o carro se aproximava o gancho era atirado e quase sempre apanhava um ou mais cachos de uva, que por vezes se estatelava na estrada, ao soltar-se do gancho.
Se o ganhão se apercebia, havia sururu, e lá tínhamos de escapar-nos o mais rápido possível, antes que os nossos pais fossem alertados e identificassem os autores da proeza.

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