sábado, 13 de fevereiro de 2010

13a. Os nossos brinquedos (2)

Já escrevi sobre os nossos brinquedos no Chão de Alverca e da nossa capacidade para os inventarmos.
Quando um pouco mais crescido e capaz de manusear algumas ferramentas de meu pai, entreguei-me à construção da tal “lambreta”, que hoje se assemelharia a uma “trotinette”.
As rodas eram rolamentos já retirados das suas funções normais, que procurávamos nas oficinas onde eles fossem jogados no lixo, e o guiador era adaptado através de um furo na parte da frente da tábua base.
Só que os rolamentos não tinham a aderência necessária e então tive de fazer rodas em madeira, que depois forrava com uma tira de borracha de qualquer câmara-de-ar já inutilizada.
O modelo foi sendo melhorado e a dado momento já tinha um pequeno assento almofadado, com forro de tecido sobre pedaços das folhas de milho seco, que então eram usadas nos colchões ou enxergas de cama.
Tal assento acabava por ser uma caixa que podia transportar outros brinquedos ou pequenos utensílios.
Todavia, o assento só era utilizado quando a “máquina” já tinha ganho alguma velocidade ou então alguém nos empurrava nas costas, pois sentados não tínhamos hipóteses de ganhar balanço para andar.
Também o guiador, nessa fase era muito baixo.
A evolução vai-se processando e, tanto o guiador como o assento, foram alteados, havendo então a possibilidade de ter um pé na base e, com o outro no chão, fazermos a projecção para a frente.
Com a minha “máquina” vinha então para junto da passagem de nível da CP na estrada de Valverde e aí, aproveitando a inclinação da estrada, conseguia andar numa extensão bastante grande.
E a cena repetia-se vezes sem conta, trazendo o “veículo” para o cimo da rampa, dali lhe dando o impulso possível para fazer a descida a toda a velocidade.
Felizmente que na altura não havia o trânsito que há hoje naquela estrada, se não, o acidente seria certo.
A minha “lambreta” passou a ser, então, um veículo muito admirado e a presença de muitos outros garotos era normal, quando eu vinha fazer a descida da passagem de nível.
A tal ponto, que passou a ser também cobiçada, surgindo então algumas propostas de compra, para além de uma proposta de troca por um carro metálico de pedais.
Era vermelho e também me encantou o suficiente para a troca se efectuar. Recordo perfeitamente o nome do seu dono, já falecido há muito – Roque Salvado António.
O carro não era para grandes velocidades, mas era um carro que até tinha emblema e tinha sido feito numa fábrica a sério.
Ora, um brinquedo de fabrico industrial, não era para todos os meninos da época.
Nesse aspecto passei a ser privilegiado.

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