sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

14. A minha comunhão solene

Já foi dito que minha mãe era muito religiosa.
Podia confundir crença com crendices, mas o caminho da igreja era para ser percorrido pelos filhos, como ela o percorria.
Todos passámos pela catequese, fizemos a primeira comunhão e finalmente a comunhão solene e crisma.
Da primeira comunhão já não consigo lembrar os pormenores.

Exibindo o tradicional laço no braço, com o meu amigo Armando

Do crisma recordo a vinda do Bispo e o convite que fiz ao que viria a ser também meu cunhado, para que fosse meu padrinho, apanhando de surpresa a minha irmã, que então o namorava.
Da comunhão solene já tenho uma ideia mais clara, até por aquilo que aconteceu nesse dia, e guardo ainda o diploma que era passado a todos os que recebiam tal sacramento, para além de uma fotografia com o tradicional laço no braço.
Minha mãe encontrava-se nas termas e foi a irmã mais velha que tratou de tudo para que eu fizesse a comunhão solene, numa missa campal que foi celebrada num largo ao fundo da avenida, que então andava a ser construída.
Era Quinta-feira de Ascensão.
Foi também a minha irmã que me fez um conjunto de casaco e calção muito bonito, para eu levar para a cerimónia.
Na altura, para se poder comungar tínhamos de estar em jejum natural desde a meia-noite até à hora da comunhão.
Tratando-se de uma missa festiva e numa cerimónia ao ar livre, a sua celebração demorou mais de duas horas.
Tanto pelo calor que se fazia sentir, como pela fraqueza devido ao jejum que era imposto, muita gente ia desmaiando, tal como aconteceu comigo.
Levaram-me para casa de uma senhora conhecida e lá me deram água para recuperar, de modo a continuar sem ingerir sólidos e poder então comungar.
Cumpriu-se assim a comunhão solene.
Mas o casaco que vesti nesse dia havia de passar por uma “macacada”, que lhe valeu um dos bolsos.
Foi num dos domingos seguintes, quando saí da missa e estavam acampados na vila do Fundão uns saltimbancos que traziam alguns animais, com os quais trabalhavam para ganhar o seu sustento.
Claro que o macaco era a maior atracção para a garotada e, se lhe davam amendoins, ele até vinha tirá-los das nossas mãos.
Eu também levava amendoins e deixei que o macaco os tirasse do bolso do casaco, ficando eu muito feliz pela relação que estava a ter com o macaco.
Só que no momento em que ele tinha a pata dentro do meu bolso, um outro garoto dá-me um empurrão nas costas.
O macaco assusta-se e retira a pata com força, levando não só os amendoins mas também o bolso, que rasgou do casaco.
Foi uma grande aflição até chegar a casa e saber quais as consequências, mas a minha irmã lá resolveu o problema, porque ainda tinha do mesmo tecido. Como o bolso era cosido pelo exterior, facilitou as coisas.

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