domingo, 7 de fevereiro de 2010

19. A vizinha

Havendo outras quintas à nossa volta, era nelas que estavam os vizinhos.
E quando se vive longe dos aglomerados urbanos, não há nada mais importante do que ter uns bons vizinhos.
É certo que, nem sempre os que estão mais perto, são os melhores.
Mas no nosso caso, os que estavam mais chegados eram mesmo dos que se estimam, porque deles se pode dizer que eram como se fossem família e daquela a quem se quer bem.
Também com muitos filhos, o Joaquim Mateus e a mulher eram o prolongamento da nossa família.
Referiu-se o nome do vizinho, mas não se disse o nome da vizinha.
E pela simples razão de que nunca deixou de ser apenas tratada por vizinha.
Soube mais tarde chamar-se Joaquina
Quando éramos mandados a pedir emprestados à vizinha chá, açúcar, sal ou qualquer outra coisa, sem dizer qual vizinha, nenhuma dúvida havia quanto à pessoa a quem dirigir-nos.
Era a mãe da Carminha, da Conceição que faleceu em pequena nos braços de minha mãe, da Glória atropelada na ponte quando já tinha 18 anos, da Lurdes, da Maria dos Anjos, do Quim, do Tó, do Zé e da Clementina.
Aqueles sete com os sete que formavam a nossa família, era um grupo bastante numeroso, mas que se dava em boa harmonia.
Havia arrufos, pequenas patifarias mas sempre ultrapassáveis, a bem da amizade que nos ligava.
De comum havia também a predisposição para as brincadeiras mais incríveis.
E da convivência entre rapazes e raparigas resultava que, na adolescência, se manifestassem as atracções entre sexos, que não resultaram em ligações para o futuro, apesar de pedidos e promessas como “queres namorar comigo?” ou “queres ser a minha namorada?” com tentativas de beijinhos e abraços.
Talvez a frase popular ouvida à minha mãe “namoros ao pé da porta não o são para casar, são como pintos atrás da mãe que andam sempre a piar”, sirva de justificação para que tal não acontecesse.
A numerosa prole da vizinha, que afinal ficou no mesmo número da nossa, levou em certa altura a um comentário e conselho de minha mãe para que a vizinha evitasse ter mais filhos, ao que ela retorquiu:- “o que é que quer vizinha, para eles aparecerem quase já só basta o cheiro…”

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