quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

16. Negrito, olha o milhano !

A existência de galináceos na quinta, pressupunha, como é óbvio, a sua formação a partir do ovo.
Para isso, tinham de chocar-se os ovos, o que acontecia de forma natural, quando alguma galinha dava sinais de querer chocar.
Seleccionados os ovos de galinhas que se sabia terem sido galadas ou, mesmo desconhecendo esse facto, analisados por gente experiente que detectava nos ovos os sinais de serem ou não galados, arranjava-se o ninho e aí se colocava a galinha sobre eles.
Nem sempre todos os ovos eram de galinha, pois muitas vezes se aproveitava esta para chocar também ovos de pato ou marreco, como os designávamos, visto ser mais difícil ter patas a chocar apenas os seus ovos.
Quando a criação aparecia, as espécies separavam-se naturalmente, porque os marrecos logo se encaminhava para a água do tanque, ainda que a alimentação fosse comum.
Surgia depois a preocupação de os proteger enquanto pequenos, porque em qualquer quinta que tivesse criação de galinhas era certo e sabido que o milhafre rondava e lá ia conseguindo apanhar algum pintainho.
Muitas vezes os vimos a baloiçar nas garras da ave de rapina, mas já nada se podia fazer.
Só a prevenção ia evitando as investidas do milhano e para tal contávamos com a ajuda dum cão chamado “negrito”, devido à sua cor negra, que ao detectar a presença duma ave de rapina já não parava de correr de um lado para o outro à volta dos pintos até os fazer regressar a sítio seguro.
Se a não detectava por si próprio, bastava gritar-lhe: negrito olha o milhano, e já não parava.
A correr de focinho no ar, seguindo a trajectória da ave de rapina, chegava a entrar pela casa dentro e esbarrar com obstáculos ou móveis que derrubava e até danificava.
Acompanhar o ciclo de vida de um simples galináceo, tem aspectos verdadeiramente espantosos.
Tal como acontece com qualquer ser vivo, pode ser acometido das mais diversas moléstias, algumas caracterizadas por aspectos intrigantes.
Num certo ano aconteceu, não só na nossa quinta mas também na dos vizinhos, que os pintos morriam depois de assumir uma posição quase vertical como a dos pinguins e a seguir tombavam fulminados.
Bastava que ao nível do papo surgisse algum pequeno obstáculo que obrigasse a um ligeiro esforço para o ultrapassar, assumiam então a posição vertical, ficavam hirtos e pouco depois caíam mortos.
No entanto, para a garotada era uma grande diversão, pelo facto de se transformarem em "pintos-homenzinhos".
Divertido, mas dramático.

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