quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

3. Sanita ou estação biológica de tratamento

Ainda no canchoso, bem lá no canto do marmeleiro, detrás da lojinha e longe da vista das pessoas, existia o pote enterrado no chão, com uma tampa de madeira provida de pega.
Era a “sanita”, que na rudeza das palavras dos moradores se designava de cagadouro, com funções de estação biológica de tratamento, uma vez que toda a matéria orgânica era dela retirada, já liquefeita, para fertilizar a horta.
E problemas de saúde nunca foram detectados, que pusessem em causa a eficácia desta estação de tratamento.
Nada se perdia, tudo se transformava.
Para nós que nos habituámos a este tipo de “sanita”, tudo era normal.
O pior foi quando recebemos a visita de um “senhor doutor da vila”, convidado para vir comer das nossas cerejas e que, perante o tão apetecido fruto, não hesitou em comê-lo da árvore, ainda quente, sem ser lavado e até ficar bem saciado.
Não passou muito tempo até que os intestinos lhe exigissem descarga acelerada e, perante tal exigência, perguntou onde era a casa de banho.
Colocado perante a nossa “sanita”, gerou-se uma situação muito embaraçosa, pois estava habituado a sentar-se na que seria a sua e, ali, teria de ficar de cócoras em equilíbrio sobre a abertura do pote.
Para além disso, o “papel higiénico” limitava-se a papel pardo de embrulho ou de jornal, o que também levantou algumas hesitações.
Foi quando nos lembrámos que o vizinho tinha, para o pessoal que trabalhava na sua oficina de carroças e carros de bois, uma casota que servia de latrina, implantada sobre o regato da água e já com uma base a formar um assento com abertura no meio.
E lá se conseguiu ultrapassar a situação resolvendo aquele aflitivo problema derivado da ingestão de cerejas quentes, mas quanto ao “papel higiénico” teve mesmo de se desenrascar com o de jornal.
Acontecia connosco, que na hora de “ir à quelha”, como dizia a avó Amélia, ou “ir a campo”, como também vulgarmente dizíamos, se não havia jornal ou outro tipo de papel, a limpeza se fazia com uma pedra ou então com um casulo do milho, que no fim mais parecia um favo de mel bem atestado.

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