segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

6. A fonte

Embora existindo uma bica para recolha de água potável no poço do canchoso, a mesma só era funcional no verão, quando o nível da água descia, permitindo o acesso à bica.
Havia então a fonte situada já no lado da vizinha, mas onde todos podíamos ir abastecer-nos.
As suas características tornavam-na também um lugar de recato propício a brincadeiras ou aventuras de miúdos, que se procurava não ser do conhecimento dos pais ou outros adultos.
Tinha a forma de uma vala em L cavada no chão, com cerca de um metro de largura e mais de dois metros na parte mais profunda, onde se encontrava a bica com uma prancha de madeira em frente, à qual se chegava pela escadaria que ia da superfície até à prancha.
Por ser um local escondido, aí começaram por exemplo as primeiras experiências no fumar de cigarros feitos da melena seca do milho, embrulhada no papel de mortalha que se vendia para fazer cigarros manualmente.
Quando aconteciam encontros com outros garotos ou garotas vizinhas para recolher a água, era certo e sabido que o cântaro iria demorar muito tempo a encher, pois as brincadeiras só terminavam quando os pais reclamavam a água em casa.
Mas por ser um lugar muito fresco no verão, costumava estender-me de costas na prancha enquanto a vasilha enchia, e não raro aconteceu ter adormecido e só acordar quando alguém chegava ou começavam a chamar-me devido à minha demora.
Numa das vezes que fui à fonte encontrei-me lá com um dos outros garotos vizinhos, numa idade em que a mudança física nos levava já a brincar com o próprio corpo.
E sentados na prancha, com os pés dentro de água, a certa altura resolvemos entregar-nos, ao desafio, à prática de uma das formas de onanismo, a masturbação.
Qual não é, porém, a nossa surpresa, quando olhamos para cima e vemos uma irmã do meu companheiro a olhar para nós, de olhos esbugalhados pelo espanto.
Quando se viu descoberta, saiu numa correria desenfreada, enquanto para nós sobrava a atrapalhação de sermos apanhados em acto que a moral cristã considerava pecaminoso.

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