terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

5. O tanque

Só por uma questão de disposição no terreno foi referida a eira antes de ser referido o tanque, uma vez que, sem água, não há produção de cereais.
Aqui, era empresada a água que vinha da ribeira, da adua ou da “pontaria”, que era movida por uma vaca, dependendo da época do ano e das disponibilidades deste precioso líquido.
O que foi o poço da pontaria ou nora
Outros tempos e outras gentes - tudo diferente
No inverno, naturalmente que se encontrava sempre cheio, não acontecendo o mesmo em todos os momentos do verão, altura em que ia escasseando a água.
Quando acontecia que o tanque era cheio com a água da adua, muito trabalho decorria até que ela chegava aqui.
Ao referir-se a água da adua, isso quer dizer que estava a usufruir-se da água comunitária que era distribuída pelos pequenos agricultores da zona.
A água vinha da ribeira, no sopé da Gardunha, mas previamente era concertado entre todos os que dela beneficiavam, qual o tempo que cabia a cada um e a hora em que tal acontecia.
Eram então preparadas as levadas por onde a água chegava aos que dela usufruíam, todos participando nesse trabalho.
Quando o tempo que nos pertencia era de noite, havia que vigiar se as levadas não tinham fugas, porque muita vez acontecia que a água não chegava ao destino e era importante que se descobrisse o motivo da falta de água e colmatar a brecha, quando ela acontecia.
De um modo geral, o tempo de cada um era respeitado, no entanto, sempre ia acontecendo que os que se encontravam a montante provocavam rupturas que pareciam buracos das escava-terras ou toupeiras, aproveitando-se do que corria enquanto o beneficiado dessa hora não ia à procura da brecha para a reparar.
Abastecido o tanque, havia então os momentos da rega, através dos regos ao longo da quinta e que era feita com as pessoas descalças dentro da água.
No tanque, era normal ver-se dentro de água alguma masseira onde se fazia o pão, para ser lavada.
Quando a garotada se apercebia do facto, lá estava a tentar improvisar um barco, embora sem grande sucesso, visto que o lastro era demasiado pequeno para aguentar com o seu peso, apesar de garotos.
E numa dessas ocasiões o Quim da vizinha, que era sempre muito atrevido nas brincadeiras, monta na masseira e tenta pôr-se em pé.
O resultado foi um banho em pleno inverno, totalmente vestido, depois de baloiçar desordenadamente e tombar para a água.
Era também no tanque que havia os lavadouros, onde as mulheres se ajoelhavam para lavar a roupa, que depois era posta a corar sobre a relva, até ser de novo passada por água e posta a secar.
Muito próximo do tanque, havia o já citado poço da pontaria ou nora, movida por uma vaca, que fazia girar os alcatruzes e com eles retirava a água do poço.
Mas era também ali que, no inverno, se abrigavam os pardais, o que permitia dar-se-lhe caça em certas noites.
Tapada a boca do poço com um toldo e fazendo barulho no seu interior, logo os mesmos saíam dos buracos das paredes, vindo esbarrar e prender-se no toldo.
Dali eram retirados e depois amanhados, para um petisco muito apreciado.

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