quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

10. A ida para a escola

O dia em que fui pela primeira vez à escola, tem permanecido sempre na minha memória.
Eu era de estatura pouco avantajada e por isso dava a impressão de ter menos idade do que aquela que realmente tinha.
Mas tendo chegado aos sete anos e tendo chegado também o dia 7 de Outubro do ano em que os completei – 1951 – lá fui a caminho da escola do parque das tílias, onde havia de completar a 4ª. Classe no fim dos quatro anos.
O dia 7 de Outubro era o dia em que começavam as aulas em todas as escolas.
Por acaso não foi o dia 7, mas sim o dia 8, pois me recordo que era dia de mercado e por isso seria segunda-feira, significando assim que o dia 7 foi domingo.
Uma sacola de pano com alça cruzada pelo ombro, tendo dentro uma lousa, uma pena, um caderno de duas linhas e um lápis, era o equipamento que me acompanhava.
No começo era o material que teria de usar mas também preservar, porque havia de servir para alguém, assim como os livros que iria usar já vinham dos meus irmãos mais velhos, que os preservaram para mim.
Quem me acompanhou no primeiro dia foi a minha irmã Anunciação, que me ensinou o caminho e me fez muitas recomendações até chegar à escola.
Chegado ali, fui entregue aos cuidados do professor, não sem que antes lhe fosse dito por minha irmã, a mando de minha mãe, que se eu me portasse mal me castigasse.
Como se isso fosse necessário, num tempo em que os professores se assumiam como educadores e por vezes carrascos, batendo sem contemplações, houvesse motivo ou não houvesse.
Não sei o que levava vestido, mas recordo que as calças tinham sido adaptadas por minha irmã ao meu tamanho.
Sei que eram castanhas e apenas chegavam ao cano das botas, ou tamancos, onde terminavam numa espécie de punho de camisa, com um botão a abotoar na respectiva casa.
Na sala fiquei perto da janela e recordo que o professor me perguntou se sabia descer e subir o estore.
Muito atrapalhado respondi que não, porque não sabia o que era um estore.
Explicou-me então que era aquela cortina de enrolar e que, puxando o fio de um lado, ela iria descer e puxando do outro, ela iria subir.
Fiz tal como ele explicou e devo ter ficado tão entusiasmado com o sobe e desce da cortina, que de repente me manda parar, dizendo que não tardava a levantar voo.
E os dias de ida à escola passaram a suceder-se uns atrás dos outros, fizesse chuva ou fizesse sol.
Quando chovia não havia guarda-chuva para nos proteger, pois aos garotos eles não eram confiados, até pelo seu tamanho e porque eram demasiado preciosos para os levarmos para a escola.
Era-nos dado então um saco de juta, que virado de forma a criar uma espécie de capuz, enfiávamos na cabeça e assim nos protegíamos.
Longos e frios Invernos aconteceram enquanto caminhei para a escola. E quando se chegava molhado, a roupa secava no corpo, porque o aquecimento não era suficiente para nos secar.
Quando o frio era muito, algumas vezes levei um tijolo aquecido no lume em casa, que depois de embrulhado num jornal colocávamos debaixo dos pés para os aquecer.
A estrada para a vila não era alcatroada na altura, tornando-se num verdadeiro lamaçal, quando chovia muito.
Num desses Invernos muito chuvosos aconteceu uma enchente na ribeira de Alverca, que a fez transbordar por cima da ponte, o que impediu a nossa passagem e a ida à escola.
Mas também a neve nos visitava frequentemente, o que dava para animar os recreios na escola, proporcionando grandes batalhas com as bolas de neve.
Desse tempo sobra também uma dolorosa recordação. A de ter esbarrado num poste de ferro, que suportava os fios da electricidade, colocado no passeio junto à parede.
De tal modo, que houve necessidade de ser levado ao hospital para ser suturado a um enorme golpe que me provocou na testa.
Foi na Rua Aurélio Pinto, junto ao portão do Zé da Vaca, que desviei o olhar para a minha direita, observando um grupo de pessoas que estava junto à casa mortuária, que o acidente aconteceu. Houve distracção da minha parte … mas o poste podia ter-se desviado !!!
Sem discutir se estava ou não correcto o método, a verdade é que o ensino que então era ministrado pouco tinha a ver com o que é dado actualmente, pois a verdade é que em quatro anos se adquiria um conhecimento que hoje não se encontra em alunos com o dobro do tempo de aprendizagem.
Quando completei o ensino primário, fazendo o exame da 4ª.classe com aprovação, houve da parte dos meus familiares uma pequena recompensa em dinheiro. Deram-me 20$00 !
Como estava perto a fábrica dos pirolitos, foi aí que fui gastar com os amigos, essa autêntica fortuna.
Todo o dinheiro gasto em pirolitos !
E se eram gostosos os pirolitos, com aquele berlinde lá dentro, que nos parecia impossível ser tirado pelo gargalo.
O que nos causava uma grande pena !

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