quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

15. Uma volta de bicicleta mal sucedida

Aprendi a andar de bicicleta no Largo de Santo António, na vila, à custa de uns tostões que por vezes me davam.
Custava 50 centavos uma volta de cinco minutos, nas bicicletas que havia para alugar no sr. Guilherme.
Se bem que nas primeiras pedaladas era sempre a direito e nem as árvores se desviavam, se ia na sua direcção, aos poucos lá consegui andar, dar curvas e ganhar experiência.
E até já conseguia andar nas bicicletas grandes, como uma que o meu irmão Ernesto tinha, metendo a perna para o pedal direito através do quadro, pois não tinha altura para me sentar no selim.
Claro que a bicicleta do meu irmão, tipo de corrida, não podia ser para eu andar, pois ela era como se fosse um tesouro para ele, e com alguma razão, uma vez que lhe tinha custado muito a comprar.
Nessa altura o meu irmão trabalhava na oficina do Reis Miguel, então situada no Largo de S. Francisco perto da minha escola, a dos garotos, pois havendo separação de sexos entre alunos da primária, a das garotas era afastada dali, ficando perto do largo do mercado.
A bicicleta era por isso o seu meio de transporte, tanto para o trabalho como para os seus passeios.
Aconteceu que um dia à hora do almoço, enquanto ele comia, me atrevi a pegar na bicicleta e ir dar uma volta na estrada, que já era alcatroada.
Ao passar em frente do portão da vizinha sai de lá a correr uma das filhas, que veio a empurrar-me no selim.
Eu bem gritei para me largar mas já não foi a tempo de evitar que me desequilibrasse, caísse sobre a bicicleta e torcesse o guiador, rasgando uma fita plástica que o forrava.
Também a roda ficou ligeiramente empenada e os travões um pouco torcidos.
Lá endireitei o guiador como pude e procurei colar de novo a fita tentando disfarçar os sinais da queda, porque sabia que não me livrava de uns açoites se o meu irmão descobrisse que tinha causado aqueles estragos à sua querida bicicleta.
A verdade é que o meu irmão acaba de almoçar, monta na bicicleta e lá foi para o trabalho.
Quando ao fim do dia regressou vinha muito furioso e percebi logo porquê, mas as culpas eram atiradas para os garotos da escola que tinham lá andado à volta da bicicleta e a teriam feito cair, causando tais estragos.
Bem caladinho, lá me safei de um castigo, que até seria merecido.

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